Ir para o conteúdo principal

Escolhendo a preservação da fertilidade feminina antes de iniciar a quimioterapia

Thanaydi Sandoval conversando com seu médico em ambiente clínico

Antes de iniciar a quimioterapia, Thanaydi Sandoval conversou com sua equipe de cuidados para discutir a preservação da fertilidade.

No dia em que ela completou 18 anos, Thanaydi Sandoval soube que tinha sarcoma de Ewing, um câncer do tecido mole. Ela acabou de começar seu primeiro ano de faculdade.

Ao discutir o plano de tratamento com ela, o médico perguntou a Sandoval o que parecia ser uma pergunta estranha: “Você planeja em ter filhos algum dia?”

Mas o momento em que a pergunta foi feita era crucial. Sandoval estava prestes a iniciar a quimioterapia. Alguns dos medicamentos poderiam afetar sua capacidade de ter filhos.

Alguns medicamentos quimioterápicos podem danificar os ovários, as glândulas que contêm e liberam os óvulos que uma mulher precisa para engravidar. Os ovários também produzem os hormônios estrogênio e progesterona. Eles ajudam a preparar o corpo da mulher para a gravidez. Alguns medicamentos podem destruir ou reduzir o número de óvulos ou interromper a forma que os ovários emitem sinais hormonais.

O médico da Sandoval disse que ela teria uma opção que poderia preservar sua fertilidade, a capacidade de ter crianças. 

Decisão de congelar os óvulos

Thanaydi Sandoval

Sandoval escolheu congelar seus óvulos antes de iniciar o tratamento de câncer.

Sandoval gostou da forma simples que seu médico falou sobre o assunto de preservação da fertilidade. Para ela, a resposta era clara: Sim.

“Na minha mente, eu sabia que queria ter uma família”, disse Sandoval. “Então, minha equipe de cuidados me explicou que eu teria essa opção, de congelar meus óvulos, antes de receber o tratamento e que, provavelmente, seria melhor do que tentar formar uma família sem fazer isso. Foi nesse momento que percebi que isso fazia sentido. Queria preservar essa capacidade e diminuir o risco de ter problemas de fertilidade.”

Ela escolheu congelar seus óvulos (criopreservação de ovócitos). O processo de congelamento de óvulos envolve os passos a seguir:

  1. Injeções de hormônio: As pacientes recebem injeções de hormônios por cerca de duas semanas. Esses hormônios ajudam os ovários a desenvolverem óvulos mais maduros do que o normal. A equipe de cuidados acompanha o progresso com exames de sangue e ultrassons.
  2. Recuperação de óvulos: Quando os óvulos estiverem prontos para serem coletados, o médico usa uma agulha fina e oca guiada por ultrassom para ajudar a observar os ovários. A agulha é inserida pela parede vaginal para remover fluido dos folículos nos ovários. Esse fluido contém os óvulos. As pacientes podem estar dormindo ou tomar um medicamento que as ajude a relaxar durante o processo.
  3. Congelamento de óvulos: Após a coleta dos óvulos, eles são congelados e armazenados de forma segura em um laboratório. Os óvulos podem permanecer congelados por anos, até que a mulher esteja pronta para usá-los.

Se a Sandoval, agora com 28 anos, decidir que ela gostaria de usar seus óvulos e engravidar, ela teria que ir a uma clínica de fertilidade, para onde seus óvulos seriam enviados. Os óvulos serão retirados do armazenamento, fertilizados com esperma e implantados em seu útero.

O congelamento de óvulos tem uma alta taxa de sucesso. Mas os resultados dependem de fatores como o número de óvulos coletados e a idade da paciente.

O processo foi mais difícil do que a Sandoval esperava. Algumas vezes, ela pediu a sua mãe para aplicar as injeções, pois ela tinha dificuldade em aplicá-las em si mesma. Ela lembra que as injeções de hormônio a fizeram ter emoções extremas.

E ela sentiu dor após a cirurgia para a coleta de óvulos.

“Não foi um processo fácil”, disse a Sandoval. “Eu tive que fazer muitas coisas até a coleta dos meus óvulos.”

Mas tudo isso valeu a pena, para dar-lhe a chance de ter filhos, disse ela.

Opções para preservação da fertilidade

As opções de preservação da fertilidade dependem da idade, do sexo e do tipo de tratamento do paciente, disse a Dra. Kari Bjornard, diretora da clínica de fertilidade no St. Jude Children’s Research Hospital.

Preservação da fertilidade feminina

Como no caso da Sandoval, o congelamento de óvulos é uma opção para pacientes mulheres que têm ciclos menstruais e têm ovários que estão liberando óvulos.

Em alguns centros de tratamento, mulheres mais jovens podem ter a opção de congelar tecido ovariano.

Preservação da fertilidade masculina

Homens que passaram da puberdade podem ser submetidos a bancos de esperma. Esse processo envolve a coleta e congelamento de esperma para uso futuro.

Alguns centros de tratamento podem oferecer a homens jovens a opção de congelamento de tecido testicular, mas isso é considerado experimental.

Para pacientes passando por tratamentos com radiação, a equipe de cuidados pode proteger os ovários (mulheres) e testículos (homens) para protegê-los de danos radioativos. Em alguns casos, os procedimentos cirúrgicos podem ajudar a proteger órgãos reprodutivos. 

Fatores a considerar quanto à preservação da fertilidade

Há importantes fatos a serem considerados quanto à preservação da fertilidade.

  • A preservação da fertilidade pode não ser possível. Em alguns casos, como leucemia aguda, os pacientes podem estar doentes demais para adiar o tratamento. A coleta de óvulos (mulheres) e banco de esperma (homens) devem acontecer antes do início do tratamento. Para a coleta de óvulos, leva-se cerca de 10 a 14 dias, a partir do início do processo para a coleta de óvulos. Normalmente, as pacientes podem iniciar o tratamento de câncer um ou dois dias depois disso. O processo de banco de esperma pode ser realizado em 24 horas. O tratamento pode ser iniciado logo após isso.
  • A preservação da fertilidade é uma escolha séria e pessoal. As decisões sobre fertilidade envolvem problemas culturais e espirituais. A preservação da fertilidade é um procedimento eletivo. Ele é programado com antecedência e não é uma emergência médica.
  • As opções de preservação da fertilidade podem ser caras. Alguns procedimentos de preservação da fertilidade podem não ser cobertos pelo plano de saúde. Eles podem ter que ser uma despesa própria. Os pacientes podem perguntar à equipe de cuidados sobre programas de assistência financeira ou subsídios para a preservação da fertilidade.
  • Há outras formas de constituir uma família. Há outras opções de se ter filhos como por adoção. As escolhas podem ser definidas por crenças culturais ou espirituais. Conversar com um terapeuta pode ajudar você a entender as opções e buscar apoio.

Nem todos os tratamentos de câncer afetam a fertilidade

É importante lembrar que nem todos os tratamentos para câncer e outras doenças sérias causam infertilidade, diz Bjornard. Ou seja, as pessoas recebendo tratamento devem usar contraceptivos, caso planejem ser sexualmente ativas e não queiram ter filhos.

“Somos cuidadosos ao orientas pacientes sobre a preservação da fertilidade e os contraceptivos”, disse Bjornard. “Gestações não planejadas durante, ou logo após, o tratamento podem levar a outras preocupações de saúde para o bebê e para a mãe."

Cuidando da saúde mental

A preservação da fertilidade e as decisões que ela envolve podem ser um processo emocional e difícil, diz Bjornard. Em alguns casos, os esforços para a preservação da fertilidade não são bem-sucedidos.

É normal apresentar ansiedade e depressão. Pacientes adolescentes podem sentir-se desconfortáveis por ir a clínicas de fertilidade para adultos para o processo de preservação da fertilidade.

Psicólogos, capelães e assistentes sociais clínicos licenciados também podem dar orientação e apoio.

Quando os pacientes decidem iniciar uma família

A infertilidade é a incapacidade de um casal conceber uma criança após um ano de relações sexuais regulares e sem proteção. Após este período, as pessoas podem querer consultar um especialista em fertilidade.

As pessoas que passam por um tratamento que pode causar infertilidade podem querer buscar ajuda antes de um ano, segundo Bjornard.

“Seja um ginecologista obstetra ou um especialista em fertilidade, os pacientes devem compartilhar sua história de câncer e se eles armazenaram materiais reprodutivos (esperma, óvulos) em algum lugar”, diz Bjornard. “Isso pode acelerar a capacidade de serem examinados e, até mesmo, seguir em frente com o processo de fertilidade, ao invés de esperar por muito tempo.”

Feliz com sua decisão de congelar seus óvulos

Thanaydi Sandoval conversando com seu médico em ambiente clínico

A Sandoval conversa com seu médico na clínica de cuidados com sobreviventes.

Agora, a Sandoval é professora do quinto ano na área de Boston. Ela não tem um companheiro no momento, mas quer ser mãe no futuro. Ela se sente agradecida por ter tido a chance de ter alguns de seus óvulos preservados, caso precise deles.

A Sandoval aconselha que outros pacientes de câncer considerem a preservação da fertilidade como opção e façam muitas perguntas para terem certeza de que entendem o que está envolvido nesta decisão.

“Se eu pudesse conversar com minha versão mais nova, eu diria a ela para obter o máximo de informações possível, mesmo que se sinta sobrecarregada”, disse a Sandoval. “Um segundo conselho que dou é se apoie nas pessoas ao seu redor. Peça às pessoas próximas a você para ajudar a fazer perguntas ou tomar notas para você. Sou grata por ter tido minha mãe ao meu lado. Ela foi um grande apoio.”

No momento, a Sandoval está focada em sua carreira e vivendo a melhor fase de sua vida.

Se você ou seu(sua) filho(a) tiver recebido o diagnóstico de câncer ou outra doença grave, converse com sua equipe de cuidados sobre como o tratamento pode afetar a fertilidade, antes de iniciá-lo. Caso necessário, converse sobre as opções de preservação da fertilidade.

Se a preservação da fertilidade não for possível, você pode explorar outras opções de formação de família, como adoção ou usar óvulos ou esperma de doadores. Planejar-se para o futuro é uma forma poderosa de manter o controle durante o tratamento.

Publicações relacionadas